quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Destino

Navegando nas sombras da mente
Sinto um hematoma, na parte da frente
Viajando no escuro idioma
Onde tenho nada além de um coma
Não consigo mais pensar na vida
E em toda porcaria que ela imita
Saia, por vontade própria, daqui
E seja, realmente, algo além de feliz
Pois não me importa o tempo verbal
Só importa, sabiamente, a compreensão final...

Açúcar ou Adoçante?

Escolha infiel
Produto cruel
Criança do véu
Em que me escondo do mundo
Da alienação do surdo
Que é implantação danada
Da sociedade domada
Onde meu coração não bate
O cachorro já não mais late
E as crianças sentem 
Onde o coração apenas mente
Porque nada está bem
E eu não sei mais quem
Me ama ou me odeia
A escolha é óbvia, eu sei...

Epifania post-mortem

Era um menino como qualquer outro, preso em uma casa diferente de todas as outras. Penso em minha vida anterior como um sonho, ao qual eu nunca devia ter acordado. Lembro com saudade da minha infância e de tudo que nela havia. Meus pais, meus irmãos e meus colegas. Amigos que carreguei por toda a mera existência. Por que me lembrei agora dessa vida, eu não sei. Só sei que ela foi melhor que essa. Sinto como se essa vida, que agora carrego com tanto pesar, estivesse acabando. Vejo, através dos meus olhos, passar uma coisa triste e em decadência. Em último lugar, percebo que é minha vida. Minha consciência inerte faz uma comparação entre as duas vidas. A anterior e a atual. O que pode ter dado errado? Sinto como se um turbilhão de emoções me alcançásse neste estado comatoso. Não consigo mover meus dedos, enquanto minha mente tamborila o som da morte. Uma melodia única, tocada por cada coração em seu último suspiro. É comum entre pacientes terminais. Agora que parei para pensar, percebi o que me trouxe a esta comparação. Estou, sim, morrendo; mas isso eu não sabia. Foi tudo um acidente. Eu estava andando de moto quando aconteceu. Não sei bem quem bateu em quem. Sei que aconteceu e eu fui parar na Emergência. Eu estava consciente, então. Mas, algo aconteceu. Meu peito começou a doer. Minha visão começou a ficar embaçada. A respiração pesou, enquanto as enfermeiras ficavam distantes e gritavam. Não foi um susto. Eu morri, concluo agora. Consigo ver meu corpo, ali deitado. Vejo que minha mãe segura minha mão. Ela me amava. Pelo menos ela. Meu coração ainda não parou, então ela ainda tem esperança. Mas, eu sei que não há futuro para mim. Cadê meu pai? Ele nunca me amou. O filho da mãe sempre me tratou mal. Eu desejava, do fundo do meu coração, que ele queimasse no fogo do inferno. Sofri epifanias, desde então. A vida é mais do que desejos mesquinhos de vingança. Percebo isso, agora, que estou partindo. Por que ele não podia, simplesmente, me amar? Eu nunca fui filho dele. Minha mãe me amou, por quê? Eu também nunca fui filho dela. Mas, laços de amor e ternura se formam com a convivência, temo dizer. Mas, meu pai nunca sentiu tais laços por mim. Ele me renegou. Eu fazia de tudo para agradá-lo. Contudo, na adolescência, desisti. Ele não merecia meu amor. Decidi trilhar meu caminho. Acho que o amor que eu exigia do meu pai era demais pra alma simplória dele. Eu sempre fui artista, e acho que ele não entendia isso. Sempre me dizia que isso não era caminho de homem. Ele achava que meu caminho devia ser como o dele; um trabalhador braçal. Ainda sonho com o dia em que ele vai acordar e ver que, quando ele quiser algo comigo, eu já não estarei lá. Acho que esse dia chegou. Meu pai já não me merece. Eu não merecia a vida que tive, mas ela permaneceu comigo. Agora, já não importa mais. O futuro é daqueles que o planejam e o vivem. Devo esquecer o passado, por melhor ou pior que seja, para avançar. Não vou mais fazer comparações. Não preciso disso. Minha vida, daqui em diante, será outra. E o futuro, a Deus pertence.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Uma morte muda tudo

Minha vida toda eu fui uma criança desajeitada, mesmo quando adolescente. Eu nunca adivinhava o que as pessoas tinham na mão que colocavam nas costas. Eu nunca fui muito bom com lógica. Sempre me imaginei como uma criança crescida. Meus pensamentos eram "viajões" demais. Meus amigos gostavam de matemática. Eu não sabia como eles eram meus amigos. Eles não gostavam de conversar comigo, me achavam louco demais. Eles cuidavam de mim. Eu era sozinho e minhas mãos tremiam. Eles ficavam ao meu lado e ouviam meus problemas. Me davam casa e alimento, quando me era negado pelos meus pais.

Minhas [des]ocupações mais valorosas...