quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O sebista

   A vida, como um todo, é engraçada. Trágicas mesmo, são as ocupações. A vida do sebista é tragicômica. Para ele, é trágica em quase todos os aspectos; cômica, porém, para quase todos os outros. Às vezes, eu acho que se eu não tivesse alguma história de vida, choraria todos os dias com as desgraças que me acontecem. Felizmente, dia após dia, eu aprendo a rir.

Coração

Dilacerado
Com farpas
Espinhos
Proteção orgânica
Da natureza
Da vida
Da evolução
Do universo
Contra você
Todos os males
Todo o ciúme
Desamor
Desarmonia
Desrespeito
Desespero
Tudo o que mostra
Nessa superfície
Rala e frágil
Que protege

Um ser, você
De interior pior
Ainda mais canalha
Porco
Nojento
Ridículo
E o pior de tudo
É o existir humano
A única das coisas
Que não deixa de ser

domingo, 24 de novembro de 2013

Suicídio

É na morte que encontro vida
Na melodia dos anjos caídos
Lúcifer, me traga luz!
Nestes tempos de tanta dor
Reluto a entender
Aquilo que não quis saber
Luto para perceber
Que meu corpo me trai
Cada vez que se vai
Causando-me repulsa à solidão
Uma amiga, já tão antiga
Que me abandona com ódio
Daquilo que, graças a você, me tornei

Ausência

O prazer de existir só há ao seu lado
Sem você, não há um eu completo
O que fica é uma tortura quase física
Que mostra apenas o que a distância faz
O sangue que percorre minhas veias
Enegrece e engrossa; sem vida, sem pulsar
Gangrenando os músculos, quebrando os ossos
Fatigando-me as retinas, os ouvidos, o nariz e a boca
Tudo parece se perder num mar de ilusões
Onde cada molécula se desfaz com várias negativas;
A recusa que tem em me aceitar como seu
Porque o amor não é o suficiente
E você já não entende como me sinto
Me abandona, singelamente, aos poucos
Me matando, por dentro e por fora, sutilmente
Arrancando a alma da carne, pútrida e fétida,
Levando-a a vagar neste mundo sem destino
Consumida pelo ciúme e toda a inveja do mundo
Daquele que lhe toca a mão, beija-te os lábios,
Abraça teu corpo, penetra tua carne,
E ouve suas súplicas de amor embebidas de aceitação

domingo, 17 de novembro de 2013

Amargura

Sutilmente, abraço a amargura
Trago intrínseca ao corpo
Envenenando a alma
Discorrendo sobre todos os defeitos
Perseguindo a tortura
Tratando-a como rainha
Fazendo com que ela se sinta em casa

Peço mil perdões aos outros
Aqueles que se ofendem
Com toda a maldade que torno minha
O egoísmo que surge em mim

Uma ânsia análoga aos enjoos
De uma gravidez infundada
Que procura trazer dor e sofrimento
Com um novo ser vivo
Um novo monstro

Uma doença suave e fatal
A humanidade, é claro
Nasce torta, inflexível
Criaturas aladas de chifres
Monstruosas e desagradáveis
Demônios absurdos que me tocam
Abusam do meu corpo
Tapam meus olhos
Meus ouvidos

Fazem-me andar regressando
Vislumbrando apenas o passado
Esquecendo-me do presente

A dor maior da vida:
Conviver com todos os erros
Arruinando-me por não planejar
Consumido pelos vermes da incerteza
Que tudo poderia ter sido melhor
Tivesse sido melhor elaborado
Como um plano escrito
Cartas para si mesmo
Cartas que revelam coisas
Que já não têm mais efeito

Jogo nesse destino uma ficha
Aposto tudo que tenho
Minhas posses e tudo que fiz
Meus pensamentos e conquistas
Prometo até mesmo um sonho

Só quero voltar ao tempo
E corrigir tudo que lhe fiz
Porque o que poderia ter sido
Não pode ser pior que o que é
Uma condição infecto-contagiosa
Onde o arrependimento é o maior sintoma
E é o único que eu sinto
E eu só penso... Por quê?

Martirizo-me por não saber viver
Com a possibilidade de mudar
Aquilo que nem ao menos sei se existiu
Só defino que é o que me lembro
E denomino de passado
Porque se fosse futuro
Eu ainda poderia mexer
E poderia vir a ser feliz
Não fosse pela maldita amargura
Que penetra no meu inteiro ser
E me lembra sempre
Que nada é o que parece ser

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Um dos meus últimos poemas

Se eu me for hoje
Quero ir com uma música
Não qualquer uma
Ela tem que ser bonita
E tem que falar de mim
Pros outros saberem
Quem fui e porque fui

As palavras não podem ser doces
Têm que ser amargas
Têm que lembrar de mim
De toda a dor que eu senti
E de todo o mal que me causaram
Foi a vida que eu levei
O destino que escolhi

Ponho o violão no braço
Toco o que me lembro
Esqueço o que tenho
Vem a dor e passa a cor

Grito rouco e louco
Parte de dentro
Fulminante e agudo
Como todo o saber
Que percorre meu infinito ser
Os caminhos da existência
Os meandros da persistência

Vem o mundo transparente
Saudoso e violento
Aprisiona a mente
E transforma a gente
Levando-nos ao abatimento
A melodia fúnebre fatal
Uma tortura banal

domingo, 10 de novembro de 2013

Amadurecimento

Bata, apanhe, sinta
Esse coração já não quer mais viver

A ruína desta muralha inteira
É meu destino derradeiro:
A vida fraudulenta, virulenta
É uma sombra violenta

Vomito minhas palavras
Com nojo de dizê-las
Verborrágico, encontro abrigo
Nas palavras, minhas amigas:
Doces mentiras

Como vermes que surgem
É a morte que me pune
Degradando-me a alma tingida
Azeda e amarga

Um sentimento satírico
Falsamente ungido
Imaginariamente mantido

Morrem as ânsias
Da libertação servil
Do corpo pueril
Pré-pubescente, uma flor
Segue, adolescente, a dor
Sem sentido, descontínua
Infernal: a gentileza descomunal

Criatura abissal, virginal
Horrenda e impura,
Que percorre o mundo
Gritando o meu tudo
Divulgando meu universo
Diferente do que faço
Sem quaisquer versos

Apaga-me da existência
Toma meu lugar
Sente-se em casa
E constrói seu lar
Um dos meus pesadelos
Um dos meus maiores erros
É a que idade me persegue

Os princípios que carregarei
O passado que não deixei
A vida que me carrega
A morte que se supera
A dor última de minhas quimeras
As Parcas segurando o "fio da vida" (o discorrer)

Temos nosso próprio tempo


Havia uma borboleta e um menino:
feliz, ele a observava voar, sinuosamente.

Pelas flores pálidas e sem odor,
ele via a beleza da vida simples,
enquanto ela se transformava em lagarta.
Era ela, afinal, um curioso caso.

Podemos sempre ser quem quisermos.
Crescer é definitivo; amadurecer é subjetivo.

Nossos corpos e nossa mente, desvinculados,
discorrem na pintura da vida
sobre quem é mais importante.

Se esquecem, porém, da excepcionalidade
Que é o destino dar a volta
Para recuperar seu tempo perdido

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Alienado

Eu vivo no mundo da lua
Sozinho, sem ninguém
Sem saber pra onde eu vou

Uma vida impossível
Um sonho possível
Uma sensação terrível

É lá que eu vivo,
Na lua do mundo
Sem sentir as cores
Sem ouvir a música
Sem entender o puro

Parte a parte
Faz-se metade
E, depois, faz-se tudo
Então, cria-se o mundo
E entende-se o futuro

Do meu ponto
Tenho minha vista
Do seu, há razão
Seu direito; meu perdão
Meu amor e sua dor

Minhas [des]ocupações mais valorosas...