quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Amor próprio

entre palavras e suspiros
as lágrimas caíram
os dados rolaram
as guerras começaram
e os genocídios terminaram

revidou porque era necessário
fez da dor sua força
lutou quando não conseguia
e fez de si um coração mais forte
quando decidiu não mais bater
nem apanhar

desistiu da vida quando se viu
entre vencedores e perdedores
não se encontrando como um igual
sem amar e ser amado

uma partida sem começo e finais
apenas caminhos sinuosos
de onde podia ver o futuro
e ainda lembrar do passado
chorar e perceber um algo mais
a vontade de viver
por ninguém além de si

Esquece...

enterrado em mim
vejo-me nos espelhos
esqueço-me de tudo
vejo o passado e sorrio
lembro do futuro e choro
ouço ecos dos pensamentos
que já me assombraram
quando matei sem dó
todas as partes de mim
ainda magoadas
que discordaram
quando disse que te amo

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Poesia sem título n° 13

dentro de mim
como uma chama
se acende a vida
surge uma estrela
corre e cai no céu azul
o escuro imortal
como uma flecha
um coração que sangra;
é a morte que surge
num surto de vitalidade
trazendo presságios
do outro mundo
tocando a música
do meu funeral

Reencarnação

entre as montanhas
correm os rios
esculpindo sua estrada
e vivendo

entre as pessoas
vivo eu
fazendo minha trilha
seguindo a vida
e deixando de viver

entre as árvores
vive o chão
feito de pedras
sem origem
trazidas pelo vento
ou pela água dos rios
que vai ao mar
e lá se mistura
vira outro
e se perde
sem ganhar nada
além do mundo

o tempo separa tudo
desde as partículas fundamentais
até os maiores rochedos
com a esperança
de sempre retornar

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Epigrama da morte

Jaz em mim uma sombra
Aquilo que fui
Jaz em mim uma tormenta
Aquilo que fiz
Jaz em mim um arrependimento
Aquilo que deixei de fazer

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Puxa e empurra

Acostume-se ao que vem
Não ao que vai
Os melhores presentes são dados
Os mais amados são os recebidos
Uma vida é uma vida
Uma morte é uma centelha
Não que partiu
Mas que foi recomeçar
Em outro lugar
Com outras pessoas
Esquecendo-se de si, sempre,
Mas, felizmente, nunca dos que deixou
Lembre-se do que foi
E nunca mais seja
Abandone a si mesmo
E encontre outros como você
Dispostos a viver
E deixar morrer
Se confundindo nos meandros
Da linha do tempo
Entre começos e fins

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

sub-instintivo

Sem caminhos, entro nos bosques mais escuros dos dias mais tristes. o sol não aparece mais. ninguém me procura. ninguém me chama. sou esquecido entre tantos. e tantos se esquecem comigo. a cada pássaro, uma melodia. a saudosa vida escapa enquanto a virtude se esconde. mato com cada grito e assassino a cada refeição. a necessidade me espanta, mas não me abandona. a sanidade é uma imperfeição. existe apenas nos sonhos. e estes, há tanto abandonados, me retornam com terror e sanguinolência. os instintos mais selvagens despontam. o animal em mim retorna. e a razão, tão adorada pelos hedonistas, mente para mim. diz-me que o futuro é incompreensível. que ele não existe. o pensamento presente se confunde ao passado. em meio tanta dor e tanto pesar. é uma teia construída de fatos e sentimentos. entre rios de confusão, vejo meu reflexo e me dá um estalo. a vida não segue inútil. entre tantos gritos, rugidos e cânticos, todos os animais possuem certa sintonia. mas não me encaixo entre eles. são como abelhas e formigas. taxonomicamente parecidas até certo nível, mas não se misturam. abandono qualquer traço do meu tempo naquele lugar e sigo corrente acima. numa cidade, consigo ver mais do que matar a fome, a sede e ser refém dos meus hormônios. vejo a real possibilidade de rir, conversar e sentir algum prazer complexo. mas, cada vez mais, os sentimentos retornam. nesse meio, consigo sentir cada experiência acontecendo de novo. cada decepção, cada lágrima indevida. com isso, procuro abandonar a vida. me jogo. do alto. preto. não há mais nada. suspira. inspira. respira. devagar. quase parando. para de piscar, para de respirar, para de viver.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Suplicâncias II

Tenha pena de mim
Olha nos meus olhos
Prova das minhas ânsias
Devora meu peito
Me livra desse mal
Segura meu punho
Escreve minha carta
Suicida-me o corpo
E faz de si uma dor menor

Na maior das causas
A vida e todos os detalhes
Os pormenores disso tudo
Essa estrutura fracassada
Condenada e abandonada
Lar de todos os meus anseios
Cemitério de todos os desejos
Lápide de todos os meus beijos
As marcas de toda uma existência

É onde te vejo
Em cada esquina
A cada espelho
Dentro de mim
Crescendo como doença
A mãe de todos os males
A fuga de todos os mundos
Os labirintos de todos os teus beijos

~uma breve referência a 1berto Jéssica que, por mais que não seja do meu agrado, possui um dom para a literatura~

Minhas [des]ocupações mais valorosas...